quinta-feira, 30 de julho de 2015

03. A Minha Casa



"Foi uma das primeiras a serem escritas, num fluxo turbulento de letra e música, cada qual vinha a cada curva formando esse rio largo que deságua num mar de 2 minutos de barulho antes do silêncio. Tem tantas referências do Zaratustra que eu aguardo algum leitor - lanço o desafio - vir torná-las públicas! É um dos meus melhores arranjos de guitarra, melodia e lírica. Um feito e tanto de canção, do tamanho do meu orgulho." ("Entrevista - Iñaron")

A Minha Casa

A minha casa é qualquer lugar
Em que as paredes puderem testemunhar
A minha fortuna e a minha ruína
Em busca do elixir vou cumprir a minha sina

O meu palácio onde posso ordenar
Que um silêncio altivo venha me adornar
O meu banquete pro meu paladar
São livros e discos que eu possa devorar

O meu casulo de onde devir cigarra
Metamorfose que faz da guitarra asa
O meu cantar cresce em mim pra voar
E ao romper o escudo, estou pronto pra tombar

A minha concha pérola esconde
Brilho lustroso por entre visco asqueroso
Se eu findar-me em vitrine disposto a ornamentar
Como vou lamentar entre os porcos chafurdar?

O leito em que deito desafiado por sonhar
É de pedras que arrasto pelas curvas que escavo
Serei profundo ou apenas a água que enturvo?
Quando vou decantar no abissal do mar?

A minha caverna na minha montanha
Aqui guardo minhas cinzas, o desprezo me acompanha
Quando vou levantar com o raiar da Aurora
E jurar ao sol: “esta é a minha hora!” ?

De tão são, até perdi a razão!
De tão santo, até perdi o encanto!
Tão veraz que cri uma vez mais
Na magia em que até a ciência acreditaria!


O lugar pra onde quero ir – o lugar que preciso
Se ele não existe, então, terei de criá-lo
O lugar que existe a partir do momento em que crio
É o lugar em que eu finalmente caibo

 

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